Fernando é angolano. Ficou cego aos 4 anos, em conseqüência do sarampo. Sentiu os horrores da guerra civil em seu país, está no Brasil há pouco mais de cinco anos e tem um filho brasileiro. Estuda como bolsista do curso de jornalismo em Florianópolis, e se projetou ao se integrar à disciplina introdução à fotografia, coisa antes impensável por se tratar de um cego.
Não vê nada, não lembra de nada antes dos 4 anos. Mas sabe quando tem sol, sente a luz, a claridade, até mesmo a neblina. O nome, Fernando Segundo, se faz necessário numa cultura como a angolana, em que o primeiro Fernando é seu tio. Mas Fernando Camuaso Segundo já tem até nome artístico — quer ser chamado de Fernando Davaidade, por gostar tanto de fotografar quanto de ser fotografado. Ele classifica a própria atitude como vaidade.
Para produzir suas fotos, Fernando contou com a ajuda da professora Marina, que conta: “Na primeira saída para fotografar, caminhamos pelo centro da cidade, lado a lado. Eu descrevia o lugar por onde passávamos. Ele fazia perguntas, como sobre a altura do prédio, se havia janelas abertas, quantas pessoas. Conseguia reconhecer as nuances de claro e escuro e procurava saber — por sua própria sensibilidade à luz — se aquele lugar tinha iluminação suficiente para uma boa fotografia. Também éramos guiados pelos sons e cheiros que ele sentia. Todos os enquadramentos foram feitos por ele. Eu apenas arrumava o foco e fazia a leitura do fotômetro”, completa a professora.
A segunda saída foi localizada, a professora descrevia e Fernando enquadrava e fotografava. “Nessa saída, ele quis se fotografar. Montamos um tripé, ele enquadrava, se posicionava e eu apertava o botão.” Ele mesmo fez todas as ampliações no laboratório com a ajuda de uma monitora, que fazia o processamento químico.
Fernando quer viabilizar sua exposição de forma itinerante, em outras universidades e espaços públicos. Também sonha com um outro projeto, de produzir cartões-postais mostrando a sua visão sobre os pontos turísticos da ilha.
Texto adaptado e editado por Página Viva, extraído do site: photos.uol.com.br
2 comentários:
Lúcia, esta postagem me fez lembrar de um pedagogo que esteve nos passando um curso no CEPM alguns anos atrás quando dizia: "De longe todos somos iguais; quando chegamos perto, de quem quer que seja, vemos que todos têm uma deficiência, e por incrível que pareça, os mais deficientes são justamente aqueles que aparentemente, não possuem nenhuma deficiência (física)". A partir daí, passei a questionar as minhas fraquezas e aceitar as dos outros, tais quais eles são. Aprendi que em primeiro lugar quem deve mudar sou eu, tenho que me adaptar ao outro, já que me considero civilizada...
Ele pode não conseguir ver com seus olhos, mas o mais importante ele consegue enxergar com os olhos do coração!!!
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